A busca por novos remédios no Brasil nunca foi tão forte. Para ir além dos genéricos, as farmacêuticas nacionais aumentam a aposta na arriscada inovação radical, que cria medicamentos do zero. O investimento em pesquisa cresceu até 150% e já soma 1 bilhão de reais. A meta: ganhar relevância global.
Prestes a completar 50 anos, a farmacêutica Eurofarma ergueu uma espécie de playground para pesquisadores dos fármacos do futuro. Inaugurado em 2020, o centro de inovação Eurolab é um espaço com seis laboratórios espalhados por 21.000 metros quadrados nos arredores da sede da farmacêutica, em Itapevi, na Grande São Paulo.
Mais de 120 aparelhos de altíssima geração analisam a interação entre substâncias químicas. Uma minifábrica é capaz de produzir remédios partindo de estudos conduzidos ali. Tudo isso faz parte de um plano ambicioso da farmacêutica de deixar para trás a vocação de só produzir genéricos e virar uma referência global em inovação. Para isso, aportou 1,5 bilhão de reais em pesquisas nos últimos seis anos — 23% dessa quantia só em 2021. O Eurolab está no centro da estratégia. “Por definição, uma empresa farmacêutica descobre novas drogas”, diz Maurizio Billi, presidente da Eurofarma. “Queremos um dia descobrir algo capaz de mudar a vida das pessoas.”
O caminho até lá traz desafios à Eurofarma. Criar remédios envolve investimentos arriscados e de longo prazo. O intervalo entre a descoberta de uma molécula com potencial terapêutico e a chegada de um remédio com essa partícula às prateleiras das farmácias pode levar 15 anos. Muitas pesquisas simplesmente param na metade, sem resultados concretos. Em razão das incertezas, um investimento parrudo em inovação depende sobretudo de uma expansão acelerada nos negócios. Só assim uma farmacêutica terá um colchão financeiro capaz de suportar eventuais fracassos científicos.
Ao que tudo indica, a Eurofarma está no momento ideal para a inovação radical. A receita anual da empresa cresceu perto de 20% na pandemia. A receita líquida dos 12 meses entre outubro de 2020 e setembro de 2021 foi de 6,7 bilhões de reais. Hoje em dia, 30% das vendas vêm de fármacos criados nos últimos anos. Daqui para a frente, a vontade é faturar mais em cima de remédios novos. A Eurofarma tem 240 projetos de remédios em desenvolvimento, dos quais 40% envolvem inovação incremental ou radical. A primeira cria melhorias em remédios já em circulação (reduzir os efeitos colaterais, por exemplo).
A segunda descobre moléculas para criar medicamentos do zero — e é o centro das atenções da Eurofarma. A ambição é virar referência mundial em antibióticos, em analgésicos e em fármacos contra doenças infecciosas. Há alguns meses, a farmacêutica bateu a marca de 1.000 moléculas criadas, das quais 350 já foram patenteadas. Algumas devem ser testadas com humanos em 2024 e, se tudo der certo, estarão à venda em oito anos. “Como a inovação radical é a mais demorada, preciso ir criando outros produtos para sair da armadilha dos genéricos”, diz Martha Penna, líder de inovação da Eurofarma.
fonte: Revista Exame

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